"A Globo não é dona do futebol brasileiro. Se a Record pagar mais,leva." Fábio Koff

Fábio Koff.

Presidente do Clube dos 13.

A associação dos maiores clubes do Brasil.

Desde 1987, quando foi criada, a entidade briga pelo interesses das principais equipes nacionais.

Para agradar gregos e troianos, a idéia inicial era que os presidentes se revezassem.

Representando polos poderosos.

O primeiro presidente foi o paulista Carlos Miguel Aidar.

Depois, outro paulista, Carlos Facchina.

Aí, um mineiro, Afonso Paulino.

Quando chegou a vez de um gaúcho, Koff assumiu.

E virou dono do cargo, desde 1995.

14 anos depois, ele dá uma entrevista importante e exclusiva ao blog.

Toca em temas polêmicos.

A começar pela Globo ser a dona do futebol no País.

"A Globo não é dona ad eternum do Brasileiro.

Os direitos de transmissão serão negociados em 2012.

A Record que não faça como da última vez, quando dois dias depois tirou a proposta e deixou o futebol para a Globo.

Nós queremos é mais dinheiro aos clubes.

Qualquer emissora pode mostrar os nossos jogos."


O que o senhor acabou de falar é que a Globo pode perder a exclusividade no futebol brasileiro?

Olha, eu sou uma pessoa direta.

A Globo transmite há tanto tempo futebol porque sempre pagou mais.

Ninguém no Clube dos 13 trabalha pela Globo.

Se a Globo não pagar mais do que a Record, SBT ou qualquer outro canal, não vai ficar com os jogos.

A nossa concorrência pela transmissão tem tantos ou mais itens do que uma concorrência pública.

Os executivos da Record sabem : eles retiraram a proposta que era maior do que a Globo faltando dois dias para acabar a concorrência.

(Em 2007, a Record ofereceu R$ 600 mlhões pelos Brasileiros de 2009, 2010 e 2011. A Globo pulou de R$ 300 milhões para R$ 380 milhões, mais porcentagem no pay per view.)

Ou seja: a Record fugiu da raia.

E a Globo continuou com os jogos.

O nosso relacionamento é excelente.

Mas, teve de nos dar um bom aumento.


O senhor parece satisfeito...

Impressão sua.

Não estou, não.

Os clubes poderiam estar ganhando bem mais.

Não vou negar que houve um enorme progresso.

Quando assumi, os contratos pelos Brasileiros valiam R$ 10,8 milhões.

Hoje valem R$ 500 milhões, somando transmissão aberta e pay per view.

No próximo contrato,também levaremos em conta a Internet e telefonia.


A Globo vetou a adaptação do calendário brasileiro ao europeu. O senhor acha justo?

Olha, Cosme, esse é um tema polêmico.

A TV Globo não é uma empresa qualquer.

Tem seus compromissos, assinou seus contratos.

Pagou em dia pela transmissão do futebol.

Tem seus direitos.

Soube que o presidente Lula quer adequar o futebol brasileiro ao europeu para evitar vendas de jogadores.

Isso é uma bobagem.

Porque os jogadores vão continuar saindo.

O dinheiro está na Europa, não aqui.

Embora vários clubes sejam favoráveis à adaptação do calendário, outros não são.

O Clube dos 13 não tem uma posição definida.

Ainda faremos vários debates sobre o tema.

Eu mesmo tenho muitas dúvidas.


A revista Veja anunciou que em 2011, o calendário brasileiro será igual ao europeu.

Não está nada definido sobre isso.

Muito pelo contrário.

A tendência forte é continuar tudo como está.


O que o senhor acha do governo argentino que estatizou as transmissões do futebol?

Um retrocesso.

Um passo ao passado.

As ditaduras acabaram.

O Estado deve cuidar de outras coisas.

O futebol está cada vez mais privatizado no mundo inteiro.

Esse absurdo que a Argentina fez não tem cabimento.

Não deve ser seguido por país nenhum.

Principalmente pelo Brasil.

Aqui nós vivemos em um país livre.

É perigoso demais o Estado comandar o futebol.


Por falar nisso, como o Clube dos 13 viu o Brasil promover a Copa de 2014?

Eu vou dar a minha opinião pessoal.

Acho excelente em vários aspectos.

O nosso futebol será ainda mais valorizado.

Os clubes têm ótima oportunidade para ganhar dinheiro.

Mas, eu tenho uma grande preocupação.

Ela está na construção de estádios que possam virar elefantes brancos.

A preocupação de difundir o futebol e construir arenas onde não há clubes representativos é preocupante.

E depois da Copa?

Como ficarão esses estádios?

Milhões de reais serão gastos.

Eu acho que é preciso responsabilidade com os investimentos.

Construir estádios por construir não leva a nada.

O Brasil não pode jogar dinheiro fora.

Eu peço bom senso das pessoas que vão definir o Mundial.


Qual a mudança que o Clube dos 13 quer em relação à Lei Pelé?

Estou querendo falar sobre esse tema.

Todos sabem que a Lei Pelé beneficiou os jogadores e os empresários.

Nunca mais os clubes terão os privilégios de antigamente.

Só que um ajuste importante será feito.

Está para passar em Brasília um projeto que aumenta o tempo do primeiro contrato.

Em vez de três anos, os clubes poderão fazer por cinco anos.

Essa mudança é fundamental para a saúde financeira do clube formador.

A novidade será ótima ao futebol brasileiro.


Corinthians, Flamengo, São Paulo, Cruzeiro.

Esses clubes e outros vivem jurando que vão abandonar o Clube dos 13.

Há união entre os principais clube do País?

Sim. Há por interesse.

A união só acaba momentaneamente por questões pontuais.

Cada clube sempre vai brigar para ter vantagem sobre o outro.

Só que, quando surgem as grandes questões, todos sabem da importância de estarmos unidos.

As brigas vão continuar.

Eu sei mais do que ninguém como são desgastantes essas brigas.

Cabe a mim lutar para nos mantermos unidos.

Hoje, somos 20 clubes e estudamos a entrada de outras equipes na nossa entidade.

A função que eu exerço tem sim de ser remunerada.

É muito desgastante.


Há um movimento nascido com o presidente do Palmeiras, Belluzo.

Ele defende um teto aos técnicos e aos jogadores.

Olha, o presidente Belluzzo é um grande conhecedor de economia.

Ele fará uma palestra para os presidentes dos demais clubes brasileiros.

O tema é polêmico, mas a difícil situação da maioria dos clubes mostra que algo tem de ser feito.

Essas discussões são salutares.

E eu confio tanto nas idéias do Belluzzo que ele representará o Clube dos 13 em um congresso em breve na Europa.

Quanto mais discussões, conversas sobre melhorar a saúde financeira dos clubes brasileiro, melhor.


O senhor voltará para o Grêmio depois do final do seu mandato, em 2010?

E o ex-presidente do Inter, Fernando Carvalho, será o seu candidato?

Olha, eu gostaria, sim, de fazer meu sucessor.

Alguém que eu confiasse que teria a mesma disposição para lutar pelos clubes.

O Fernando Carvalho é uma pessoa que eu gosto muito.

Mas, vamos ver.

E, Cosme, não volto mais para o Grêmio.

O que eu tinha de ajudar lá, eu já ajudei.

Depois do Clube dos 13, volto para a minha casa.

Já estou com 78 anos.

Passou da hora de eu descansar.

Quero ir para casa...

Fonte: Blog co Cosme Rímoli

 
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